domingo, 20 de setembro de 2009

Erros e erros

Sim, a imprensa erra.

Existem erros e erros. Os primeiros são acidentes ou incidentes. Acontecem simplesmente, algumas vezes por descuido, outras por omissão, outras ainda até por ingenuidade. Em qualquer do casos não deveriam ocorrer. Quando tratamos com a coisa pública (mesmo que neste caso a “coisa” pública seja a opinião) devemos redobrar o cuidado, jamais deixar de lado um detalhe que possa confirmar ou desqualificar uma informação e, principalmente, não nos portarmos com ingenuidade frente ao caso ou ao acaso. A imprensa também erra e isso acontece praticamente todos os dias. Uma informação equivocada acontece, uma grafia original que se publica alterada, uma opinião que se apresenta passível de múltiplas interpretações e, até, um nome que saia invertido com relação à informação enunciada. São muitas as variáveis de erro no primeiro caso. Mas é preciso diferir da segunda opção, quando o erro é consciente, quando a informação é omitida ou descaracterizada em função de um objetivo, um fim esperado. Se no primeiro caso é possível na maior parte das vezes apresentar um “desculpe-me”, embora este nem sempre possa corrigir o equívoco, no segundo caso o “desculpe-me” soa inapresentável e mesmo inaceitável. Por isso precisamos diferir erros de erros. Errar é humano e, sim, profissionais da imprensa ainda são seres humanos passíveis de erro. Porém planejar o erro, torna-lo consciente, esperar algum tipo de ação ou reação a partir dele, isso sim me soa como algo severamente inapropriado, condenável. A leitura por parte do público dos erros e erros, pode também diferir em diversos aspectos, vida o maior ou menor alcance da veiculação, vide a menor ou maior gravidade da conseqüência projetada. Lembremo-nos que o público não se compõem apenas de comunicólogos preparados academicamente para interpretar o real e o imaginário, ao contrário, a predominância está nos indivíduos que farão uma interpretação rápida, geralmente em primeira leitura (ou em primeira audiência) e partir daí formularão seus próprios juízos. Reforça-se uma vez aceita essa idéia, a responsabilidade do agente comunicativo antes de emanar sua mensagem. Antes porém de convidarmos à forca o agente que comete um equívoco, façamos ao menos a tentativa de uma leitura crítica desse ato, se ele representa erro ou erro.

Um comentário:

  1. Sabiíssimas palavras!
    Logo que comecei a ler, fiz o link com a profissão de tradutor. Tenho certeza que todo mundo já ouviu (ou já disse) algo do gênero: "não foi bem isso que ele disse!" diante da legenda de um filme. Escrever ou traduzir, que é um re-escrever, é algo muito delicado. É dedicar-se ao extremo e ir correndo para a praça esperar o esquartejamento. Às vezes surgem uns elogios, mas é muito mais fácil a sociedade criticar sem conhecer o funcionamento da coisa.
    Eu mesma, quando comecei a compreender algumas coisas em inglês, ficava chateada com as traduções dos sites. Mas aí, ao ter algumas cadeiras na universidade, compreendi o grande abacaxi que é um texto a ser traduzido.
    Sim, amigo! Tratar da coisa pública exige cuidado redobrado!

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